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Argumentação por exemplificação

Além da apresentação de razões e decorrências, podemos fundamentar nossas posições num texto dissertativo por meio de outros recursos argumentativos, dentre os quais ressaltamos a exemplificação, a apresentação de dados e fatos.

Os dados e fatos, colhidos tanto da experiência vivida quanto de informações das mais diferentes fontes - revistas, jornais, livros etc - constituem uma espécie de alicerce de nossos textos dissertativos, uma vez que tornam as idéias corretas, materializadas, vivas, diante do leitor. Isso faz com que ele possa não apenas raciocinar, mas perceber sensorialmente conosco o que estamos procurando defender.

Assim, a exemplificação não apenas constitui um elemento de persuasão, mas também auxilia a formular o raciocínio, podendo diminuir problemas de clareza que aconteçam na apresentação de nossas idéias e/ou no entendimento delas por parte do leitor.



Com dados que funcionem como fatos-exemplos, podemos, então, proporcionar maior solidez às nossas dissertações, desde que saibamos interpretá-los, quer dizer, desde que percebamos se são pertinentes, se são suficientes, se há coerência entre eles e o que estamos afirmando.

Escolher dentre os dados conhecidos os mais oportunos para a defesa da posição que se assume, organizá-los de modo consistente com as hipóteses que os expliquem, integrá-los a outras informações de que se dispõe, aumentando a riqueza e a originalidade do texto, implica duas capacidades decisivas: saber interpretá-los e saber reuni-los, transformá-los em conjuntos, em função do caráter generalizador do texto dissertativo.

"Os fatos em si mesmos às vezes não bastam: para que provem é preciso que sua observação seja acurada e que eles próprios sejam adequados, relevantes, típicos ou característicos suficientes ou fidedignos ".
(Othon M. Garcia - Comunicação emProsa Moderna - Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1996)

Exemplo:

Miséria absoluta: eis o nome da doença social brasileira. A mortalidade infantil. A discrasia da fome. O aviltamento do trabalho. A favela. Seria de esperar que essa doença se transformasse em consciência política. A miséria se politizaria, passando a integrar o campo da luta de classes. É preciso fazer a reforma agrária. É preciso fixar, no campo, o homem do campo. É preciso honrar e reverenciar o trabalho humano, através de salários condignos. Para tanto, há que questionar, sem temor e tremor, o privilégio dos ricos.

(Hélio Pellegrino -A Burrice do Demônio - Rio de janeiro,. Rocco, 1988 - texto adaptado)

Comentários

Observe que o parágrafo lido possui uma idéia-núcleo do texto dissertativo, um tópico frasal - Miséria absoluta: eis o nome da doença social brasileira - de que decorre uma suposição esperançosa, expressa por meio de raciocínio condicional: Seria de esperar que essa doença se transformasse em consciência política. A miséria se politizaria, passando a integrar o campo da luta de classes (se essa doença se transformasse... então, a miséria se politizaria...etc).

Observe também que ambas as declarações são fundamentadas por enumeração de exemplos, seja os referentes à realidade constatada - A mortalidade infantil. A discrasia da fome. O aviltamento do trabalho. A favela. - seja os referentes à realidade desejada: É preciso fazer a reforma agrária. É preciso fixar, no campo, o homem do campo. É preciso honrar e reverenciar o trabalho humano, através de salários condignos.

Na conclusão, reaparece a idéia de condição: Para tanto, há que questionar, sem temor e tremor, o privilégio dos ricos.

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