Algumas das árvores mostradas no folheto ainda existem graças aos cuidados pessoais e à inspiração de um artista que durante décadas providenciava para que os passarinhos encontrassem nelas seu suprimento
diário de frutas, cortadas na metade e presas aos galhos. Aldemir Martins costumava desenhar esses pássaros, ainda que não tão frequentemente quanto os gatos. A sibipiruna que faz sombra no meu quintal fica junto ao ateliê onde ele trabalhou diariamente durante mais de 30 anos. Aldemir se foi. Ou, melhor, não se foi, ficou no que fez e no que inspirou. Está aí, nos pássaros, pintados ou reais. Aldemir era capaz de manter um oásis em torno de si próprio, estivesse onde estivesse. Talvez esteja aí uma virtude essencial nesta caótica vida urbana, a capacidade de transformar em melhor lugar do mundo qualquer lugar onde se esteja, apenas com sua presença, seja onde for. Isso vale para o que é denso, como plantas, paredes e tetos, e mais ainda para o que é sutil, como a atitude e a convivência, que influencia, nutre e constrói. É algo que se projeta internamente e que repercute no entorno.
"Deve ter alamedas verdes a cidade dos meus amores", canta Chico na voz de bichos e crianças em A Cidade Ideal. Para encontrar um oásis nesta cidade tantas vezes cruel, há que enxergá-la com olhos de quem ama. Quem busca um oásis será capaz de reconhecê-lo quando o encontrar. A pessoa que percebe o deserto, que decide não fazer parte dele e assim ser ela mesma uma oposição à aridez identificará o oásis naturalmente. Há que nutrir os oásis e preservá-los, seja dentro de nós mesmos, seja nas poucas árvores que ainda restam nas enormes cidades calçadas.
(VIDA SIMPLES, abril de 2006)
CAÇA-INFORMAÇÃO
Qual a tese defendida pelo autor no texto?
Quais são os principais argumentos utilizados?
Como ele resumiu esses argumentos na conclusão? Cite um período que sintetize o ponto de vista defendido.
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